quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

ola JORGE PALMA

Grande Palma

Olá (cá estamos nós outra vez)
Jorge Palma in Voo Nocturno

Olá! Sempre apanhaste o tal comboio?
Eu já perdi dois ou três
entre o ócio e as esquinas
ganhei o vício da estrada
nesta outra encruzilhada
talvez agora a coisa dê
o passado foi à história
cá estamos nós outra vez

Conheço a tua cara, mas não sei o teu nome
eu escrevo já aqui, não sei o quê, arroba-ponte-come
vou-te reencontrar noutro bar de estação
ou talvez quando perder mais um avião
o barco vai de saída, tu estás tão bronzeada
é tão bom ver-te assim, ardente,
tão queimada

Eu quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
quero reconhecer-te e beber um café
dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
eu quero dar-te um beijo
a cinquenta e tal graus

Quero reencontrar-te noutra esquina qualquer
sem saber o teu nome ou se ainda és mulher
quero reconhecer-te e beber um café
dizer-te de onde venho e perguntar-te porquê
sorrir-te cá do fundo, subir os degraus
eu quero dar-te um beijo a cinquenta e tal graus

Sempre apanhaste o tal comboio?
Já perdi dois ou três
entre o ócio e as esquinas
ganhei o vício da estrada,
nesta outra encruzilhada
talvez agora a coisa dê
o passado foi história
cá estamos nós outra vez
cá estamos nós outra vez

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Estavas numa cama quente
Eu estava frio sobre um lençol já gasto pelo tempo
Gasto pelos corpos e mais corpos que nele se embrulharam
As duas paredes paralelas que nos separavam
Eram dois mundos distintos
O verão e o Inverno
O ter e o desejar
Duas paredes com muita vida
Separavam dois corpos ausentes
Dois corpos de Outono
Que morrem secos como as folhas das árvores
A luz que subia pela janela
Arrastou o meu corpo para as ruas despidas
Desta cidade cremada
Levou os restos duma esperança há muito perdida

Um café de um bairro operário
Espalmou numa bigorna velha
As aventuras sonhadas ao teu lado

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Boa noite
Dorme bem
Beijos grandes

Nada em ti tem significado especial
É como as roupas que se entregam na caritas
Como os restos dos bifes dos talhos
Como a beata do cigarro que se oferece ao mendigo
É como carro que deixa de andar
É como uma garrafa vazia que se despoja no vidrão
Como um ninho velho de um pássaro sedentário
Nada em ti é fresco
Nada em ti é ao arrepio do vento
È como se todos os dias a lua cedesse ao sol os seus minutos de gloria

Carrapateco

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um dia, numa cama qualquer,
Num carro abandonado no tempo,
Numa pedra,
Vou sentir os teus seios
Na frescura dos meus lábios,
Vou beber a humidade do teu corpo.
É nesse instante que os meus olhos e s teus olhos
Sorriem pelo tempo ausente.
O meu corpo percorre o teu num campo de flores.
O Lugar onde os teus olhos
Pernoitam nos meus,
É o pensamento

domingo, 11 de novembro de 2007

Fui mas fui obrigado. Parte 0

Como referi num post anterior, estava com vontade de escrever sobre outras coisas que não publicar alguns poemas que vou fazendo.
Ocorre que, esta semana, estreamos em Beja uma nova produção das Lendias d’Encantar, “Sangue Pisado”, que é um espectáculo difícil mas muito interessante de assistir. A estreia desta peça levou-me a pensar sobre algo que é permanentemente alvo de discussão, alimentando egos supostamente mais carenciados –“a criação de públicos”.
Ao longo destes catorze anos de actividade como actor, para não falar nos vinte e dois em que estive ligado ao movimento associativo estudantil e juvenil, deparei-me inúmeras vezes com o termo “criação de públicos”, usado pelos detentores de cargos públicos com um desplante assustador (durante muitos anos pensei que a coisa era honesta).
Expressões como – “temos de fazer espectáculos nas freguesias rurais para criar públicos” ou “é importante fazer uma peça para o público infantil porque é nesta faixa etária que temos de investir na criação de público” foram uma constante.
Hoje e depois da estreia da referida peça, penso que na tão falada criação de públicos urge começar pelos aparentemente menos carenciados de formação – delegados regionais, deputados eleitos pelo circulo de Beja, vereadores, eleitos municipais, presidentes de junta de freguesia, chefes de divisão e de departamento, …
De facto, é este o público que temos que criar para assistir aos espectáculos, porque para além de uma hipotética análise critica sobre o espectáculo (tenho algumas dúvidas), pelo menos estes teriam conhecimento de causa quando estivessem a discutir e decidir apoios a atribuir.

cartaz EROSCOPIO

terça-feira, 6 de novembro de 2007

teu corpo esguio

Ontem sorri ao lembrar o teu corpo
seguro, ágil, esguio
nas tardes em que lhe tocava levemente no meu quarto
sabia de cor todas as tuas necessidades
como te agradavam as carícias no pescoço
os abraços apertados antes de me entregar a ti
os olhares doentes de desejo
o percorrer de língua, muitas vezes desesperada de entrar em ti
de te ter dentro do meu corpo
trocando a natureza dos corpos

terça-feira, 30 de outubro de 2007

poema antigo

A cama onde antes sorria nos sonhos
é um mar de dor que vejo
é uma dor que sinto perto
é a morte que acaricio
não, não venhas vestida de vermelho
não me enganes de novo
não me prendas junto a ti outra vez
não me mates como outrora me salvas-te
não, eu quero morrer só
na minha calma vã, na minha permanente e duradoura paz revolta

Sangue Pisado

outro poema novo

Acaricio a imagem do teu corpo
Por debaixo do vidro
Bebo o teu semem devagarinho
Como se a minha língua passasse pelos lábios da tua vagina
Pouso o teu corpo na mesa
Na rotina de um cigarro
Dispo-me acariciando o meu corpo na procura de um toque teu
Desligo o termo ventilador do meu amor

O amor está no recorte geométrico das fotografias antigas

Foto da peça "La Balsa de Piedra"

finalmente tenho novamente internet

Finalmente, ligaram-me o Kanguru (varias facturas em atraso).
Depois de quase 4 meses sem este meio tecnológico, posso agora dar mais vida a este espaço. Inicialmente apenas queria aqui colocar poesia (falta de modéstia minha), mas agora sinto-me tentado a escrever sobre outros assuntos, principalmente sobre a minha área profissional, o teatro e a actividade cultural.
Mas este afastamento do blogue deve-se também ao facto de estar a trabalhar muito em ensaios e apresentações dos espectáculos, felizmente.

domingo, 12 de agosto de 2007

so te vejo pela esquina do olhar

Só te vejo pela esquina do olhar
não te quero presente nas minhas muitas amarguras
não te quero ver sorrir depois das minhas quedas embriagadas
não quero uma resposta dum momento que não é o meu
tu falas sempre sem saber o meu nome próprio
respondes sempre de forma fácil e matreira
olhas-me como se te visses ao espelho
e as tuas palavras desaparecem muito rapidamente depois de fechares a porta do quarto
Sinto o teu olhar longe do meu
não te tenho parada na cama a espera do meu amor
antes sorrias muito ao ver-me aconchegado a ti
quando te apertava com os abraços fortes, quase difíceis de suportar
antes dizias sempre no fim do dia que a noite era uma âncora para o amor
para o nosso amor
hoje saiste de casa com a saia caída sobre os joelhos
olhaste-me de muito longe da tua cidade
partiste-me as esperanças
quebras-te o meu sorriso de puto
amarrotas-te as minhas alegrias
sem eu saber porquê

acordar

As manhãs já não têm o mesmo sol
os pássaros já não cantam por cima da porta da entrada
os vizinhos já não sorriem ao ver-me sair de casa
a cama fica sempre arrumada sem ti
apenas a calçada permanece dura quando ampara as minhas quedas desamparadas

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O que penso

Penso, ponto.
Penso em duas laranjas que nasceram da mesma flor
Penso nas bicicletas com quatro rodas,
Nas mesas dos restaurantes, reservadas para dois
Nos convites duplos,
Nas calças de ganga onde entram quatro pernas,
Nas banheiras ao fim de tarde, onde os corpos se cansam.
Penso nos serviços de chá com duas chávenas,
Na cama de meio corpo onde nos sobra espaço.
Penso, paragrafo –
Que o limão deve estar só, porque nasce de uma só flor.

perdi a comodidade da ignorância

Perdi a comodidade da ignorância
Olhei-me no espelho e não vi os teus olhos
Caminhei pelas ruas a procura dos teus passos
Encostei-me nas esquinas à espera da tua sombra
Mas tu és um pássaro da primavera
Uma andorinha inconstante
Foges pelos meus dedos húmidos
E deixas a minha pele seca com a tua ausência

não te esqueci

Não te esqueci
Andei perdido nas ruas, nas casas e nos corpos que surgiam
Sempre nas tardes longas do Outono
Ainda me perco ao lembrar o teu sorriso
Nas tardes quentes de verão
Nas manhãs em que nos enlaçávamos de desejo
Nas noites em que sorri
Nas noites em que me entreguei a ti
Nas manhãs em que me olhas-te com desejo
Nos dias e noites e tardes em que os nossos olhos pararam
E ficaram alegres de se encontrarem
Hoje acordei sem o teu rosto
Sem as tuas longas pernas
Sem a tua palidez desesperada
Sem as carícias dos teus cabelos
Fiquei com os teus olhos fechados numa gaveta
Guardei no armário os teus lábios
Depois peguei numa roupa qualquer e fechei-me num outro corpo

quero-te

quero-te longe do meu sorriso
quero-te parada quando correr ao teu encontro
quero-te tornada pedra
quando o meu corpo sentir a ausência do teu
quero-te de olhos fechados para que o meu sorriso
esbata na tua frieza
quero-te longe
quero-te afastada das minhas carícias
quero-te levada pelas aguas frias dos mares
quero-te sentada na montanha invisível do meu olhar

antes...

fumo o mesmo cigarro três vezes
bebo o mesmo vinho
respiro sempre á mesma hora
dispo-me calmamente como se espera-se por ti
mas tu já não fumas os meus cigarros
não matas a tua sede do mesmo vinho
morres-te sufocada
e não olhas para o meu corpo nu
adormeces calmamente como antes de mim
como antes do meu amor
no mar de incertezas que tanto gostas
olhas-me de longe e sorris pela dor do meu corpo vão
acendo o mesmo cigarro…

terça-feira, 31 de julho de 2007

foto do espectaculo deflagrações

gosto

Gosto de estar contigo debaixo das árvores verdes
de ficarmos sentados nas muralhas dos castelos mais altos
perder-te entre as ruas húmidas e estreitas
deixar-te sentada na cama
depois de te abraçar lentamente até ficar sem forças
gosto de ver o teu olhar perdido
quando te toco de fugida nas pernas
gosto de ficar parado para que me adivinhes os pensamentos
gosto das flores que caiem das árvores quando sorrimos juntos
gosto do tempo gasto a esperar-te

prefacio do livro aluimentos 2005

Revez,
com o tempo habituei-me a ver-te
a andar na direcção das armadilhas,
longe da comodidade dos lares,
longe do conforto dos sofás
instalados estrategicamente nas salas
em frente a televisão.
Não suportas a vida estável
nem a saudade ou o adormecimento,
preferes o rigor do Inverno
sobre o teu corpo nu,
preferes a tempestade
e a união do teu rosto com o vento.
É por isso que tu escreves
ou começas-te a escrever.
Os poemas reunidos neste teu primeiro livro
são “O sol amargo da desesperança de um amor verde
e fresco do verão que tarda em aparecer”


Paulo Ribeiro

quarta-feira, 25 de julho de 2007

segunda-feira, 23 de julho de 2007

amo-te. insistiu ele.

- amo-te. insistiu ele.
- eu não. respondeu ela.
- e se nos voltarmos a encontrar? perguntou ele.
- eclipses, nada mais. respondeu a lua ao sol.

Manhã Doce

Foste a manhã doce que despertou o meu olhar
Que se debruçou suavemente na minha janela
E que esperou para me ver acordar
Foste a tarde de calor que se encostou no meu peito
E me apagou a dor
Foste a noite que se vestiu na luz branca do luar
E me adormeceu em profundos sonhos
Até que voltaste manhã doce
Propositadamente para me acordar

domingo, 22 de julho de 2007

Fui eu...

fui eu quem te roubou o brilho do olhar
as tuas mãos húmidas de desejo
a tua alegria verde ao acordar
os teus abraços ternos e meigos
a tua esperança no dia de amanhã
fui eu
quem te espetou as facas mais aguçadas de ódio
quem te olhou com a raiva mais vermelha da desesperança
quem te abraçou com a força mais pálida
quem se deitou mais friamente a teu lado nas noites quentes de verão
fui eu
sem saber porquê…

sexta-feira, 20 de julho de 2007

outro poema antigo

Recordo muito levemente o corpo suado de amor e sexo
o nosso cheiro a preencher as paredes frias dos quartos onde nos demos
derradeiramente como se fosse a ultima
como se o dia terminasse ali naquele orgasmo
dei-me ao teu amor sempre com o sorriso mais puro
como as crianças que roubam laranjas e fogem
eu nunca fugi de ti, ficava ali muito quieto
a contar os cabelos que perdias
a assistir à tua cara a voltar ao normal
à espera de um olhar cúmplice, de me dizeres que era para sempre
hoje acho que perdi o olhar
não fugi, fiquei muito quieto, mas não tenho cabelos para contar
e não me disseste que era para sempre
sussurraste-me de longe para me recordar o que é o passado

Havana

Os pobre que se sentam nas esquinas húmidas das calçadas
Sabem que os sonhos estão escondidos nas folhas verdes das árvores
Nos fumos ásperos dos carros que a pouco e pouco vão circulando
Nas fachadas destruídas das casas coloridas de branco
Os homens sabem que as ruas são feitas para amar
Que as árvores altas e húmidas gostam de ser cobiçadas e desejadas
Os pobres que se sentam nas esquinas húmidas das calçadas
Sonham com um pouco mais de frio
Com as luas frias do Outono
Ainda pensam e sonham com peixes livres de espinhas e dor
Com o sol que tarda em chegar perto
Com a pálida liberdade dos outros.

Eroscópio

oficio de amar

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Sem titulo

não tenho saudades tuas
tenho saudades do futuro
tenho saudade do teu sorriso
de te acarinhar os ombros sem pensar que mãos já trilharam o teu corpo
tenho saudades de me beberes
de me dares a agua do teu corpo frágil
tenho saudades de te ver sorrir no anoitecer das manhãs
tenho saudades de te desejar bom dia porque esse é o meu dia
tenho saudades de te vestir os vestidos largos
para depois entrar em ti sem te esperar
tenho saudades do teu corpo aberto no meio do saco cama
roto pelo pernoitar dos nossos corpos
tenho saudades de me olhar no espelho e ver os teus olhos
de me pentear até ao final das costas como se o meu cabelo fosse o teu
tenho saudades de preparar duas torradas sem manteiga
dois chás sem açúcar
dois bifes com pimenta
dois cigarros sem aditivos
e um com compostos dificilmente derretidos
tenho saudades do teu olhar revirado ao acordar
mesmo que eu não acorde no teu telhado virado para a porta da entrada

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Quero-te

Quero-te no espaço mínimo de dois corpos
Para que no segundo seguinte ao meu olhar
O meu corpo encontre o teu
Quero amar-te sem hora marcada,
Sem pré-anúncio de desejo
Quero amar-te logo que os meus olhos encontrem os teus
Quero amarrotar-te na cama por entre os abraços apertados do amor
Quero rasgar-te a roupa
O meu corpo precisa do teu sem ameias
Quero ser a águia que voa ao encontro da presa
Quero ser o animal carnívoro que se sacia com o corpo do outro
O teu corpo…
Quero ofender as tuas hesitações, com o desespero de uma erecção
Entrar em ti contrariando as tuas decisões
Quero amar sem a prevenção da ausência
Quero amar-te mesmo que seja só isso.