domingo, 12 de agosto de 2007

so te vejo pela esquina do olhar

Só te vejo pela esquina do olhar
não te quero presente nas minhas muitas amarguras
não te quero ver sorrir depois das minhas quedas embriagadas
não quero uma resposta dum momento que não é o meu
tu falas sempre sem saber o meu nome próprio
respondes sempre de forma fácil e matreira
olhas-me como se te visses ao espelho
e as tuas palavras desaparecem muito rapidamente depois de fechares a porta do quarto
Sinto o teu olhar longe do meu
não te tenho parada na cama a espera do meu amor
antes sorrias muito ao ver-me aconchegado a ti
quando te apertava com os abraços fortes, quase difíceis de suportar
antes dizias sempre no fim do dia que a noite era uma âncora para o amor
para o nosso amor
hoje saiste de casa com a saia caída sobre os joelhos
olhaste-me de muito longe da tua cidade
partiste-me as esperanças
quebras-te o meu sorriso de puto
amarrotas-te as minhas alegrias
sem eu saber porquê

acordar

As manhãs já não têm o mesmo sol
os pássaros já não cantam por cima da porta da entrada
os vizinhos já não sorriem ao ver-me sair de casa
a cama fica sempre arrumada sem ti
apenas a calçada permanece dura quando ampara as minhas quedas desamparadas

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O que penso

Penso, ponto.
Penso em duas laranjas que nasceram da mesma flor
Penso nas bicicletas com quatro rodas,
Nas mesas dos restaurantes, reservadas para dois
Nos convites duplos,
Nas calças de ganga onde entram quatro pernas,
Nas banheiras ao fim de tarde, onde os corpos se cansam.
Penso nos serviços de chá com duas chávenas,
Na cama de meio corpo onde nos sobra espaço.
Penso, paragrafo –
Que o limão deve estar só, porque nasce de uma só flor.

perdi a comodidade da ignorância

Perdi a comodidade da ignorância
Olhei-me no espelho e não vi os teus olhos
Caminhei pelas ruas a procura dos teus passos
Encostei-me nas esquinas à espera da tua sombra
Mas tu és um pássaro da primavera
Uma andorinha inconstante
Foges pelos meus dedos húmidos
E deixas a minha pele seca com a tua ausência

não te esqueci

Não te esqueci
Andei perdido nas ruas, nas casas e nos corpos que surgiam
Sempre nas tardes longas do Outono
Ainda me perco ao lembrar o teu sorriso
Nas tardes quentes de verão
Nas manhãs em que nos enlaçávamos de desejo
Nas noites em que sorri
Nas noites em que me entreguei a ti
Nas manhãs em que me olhas-te com desejo
Nos dias e noites e tardes em que os nossos olhos pararam
E ficaram alegres de se encontrarem
Hoje acordei sem o teu rosto
Sem as tuas longas pernas
Sem a tua palidez desesperada
Sem as carícias dos teus cabelos
Fiquei com os teus olhos fechados numa gaveta
Guardei no armário os teus lábios
Depois peguei numa roupa qualquer e fechei-me num outro corpo

quero-te

quero-te longe do meu sorriso
quero-te parada quando correr ao teu encontro
quero-te tornada pedra
quando o meu corpo sentir a ausência do teu
quero-te de olhos fechados para que o meu sorriso
esbata na tua frieza
quero-te longe
quero-te afastada das minhas carícias
quero-te levada pelas aguas frias dos mares
quero-te sentada na montanha invisível do meu olhar

antes...

fumo o mesmo cigarro três vezes
bebo o mesmo vinho
respiro sempre á mesma hora
dispo-me calmamente como se espera-se por ti
mas tu já não fumas os meus cigarros
não matas a tua sede do mesmo vinho
morres-te sufocada
e não olhas para o meu corpo nu
adormeces calmamente como antes de mim
como antes do meu amor
no mar de incertezas que tanto gostas
olhas-me de longe e sorris pela dor do meu corpo vão
acendo o mesmo cigarro…