sexta-feira, 3 de setembro de 2010

desde La Habana

Vou tentar escrever mais vezes neste espaço, que agora que estou longe, funciona como uma corda que se estende no atlântico. Faz hoje duas semanas que estou em Cuba, na verdade parece que estou aqui há um mês. Depois das horas de avião, já estive em três casas diferentes e visitei varias cidades, também já passei muitas horas em autocarros, muitas.
Cuba é uma pais diferente, muito diferente, para o caso não interessa perceber se para melhor se para pior, interessa que é um pais único no mundo e esse facto obriga-nos a pensar, a repensar, a ter curiosidade, a perguntar, e isso é bom .
Tenho, acho eu, uma grande capacidade de adaptação e neste caso é fundamental termos a capacidade de nos moldarmos a uma vida diferente, perdermos hábitos, perdermos rotinas, ganharmos novas maneiras de estruturarmos o tempo. Aqui o tempo é muito, não que as horas de trabalho sejam poucas, mas o tempo e diferente, é maior. Aqui não tenho burocracias para tratar, não tenho compromissos , o único horário que tenho que cumprir é o dos ensaios, quatro horas diárias. Sinto-me um actor, ou melhor sinto aquilo que quarquer actor deveria sentir em qualquer parte do mundo, tempo para ver espectáculos, estudar o texto, preparar os ensaios. Espectáculos tenho visto muitos, havana tem uma vida cultural intensa, e os preços dos espectáculos são estupidamente baixos, 20 centimos para uma peça de teatro. Sou um solitário por natureza e aqui consigo viver muito bem comigo. Gosto das manhãs passadas nas ruas a caminhar rodeado de gente, solitariamente.
Há também um prazer novo que saboreio arduamente, não saber nada do que se passa em Portugal e muito pouco do que se passa em Beja , assim não gasto energia nenhuma a pensar nem a discutir coisas na maioria das vezes estéreis .

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