quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Estavas numa cama quente
Eu estava frio sobre um lençol já gasto pelo tempo
Gasto pelos corpos e mais corpos que nele se embrulharam
As duas paredes paralelas que nos separavam
Eram dois mundos distintos
O verão e o Inverno
O ter e o desejar
Duas paredes com muita vida
Separavam dois corpos ausentes
Dois corpos de Outono
Que morrem secos como as folhas das árvores
A luz que subia pela janela
Arrastou o meu corpo para as ruas despidas
Desta cidade cremada
Levou os restos duma esperança há muito perdida

Um café de um bairro operário
Espalmou numa bigorna velha
As aventuras sonhadas ao teu lado

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Boa noite
Dorme bem
Beijos grandes

Nada em ti tem significado especial
É como as roupas que se entregam na caritas
Como os restos dos bifes dos talhos
Como a beata do cigarro que se oferece ao mendigo
É como carro que deixa de andar
É como uma garrafa vazia que se despoja no vidrão
Como um ninho velho de um pássaro sedentário
Nada em ti é fresco
Nada em ti é ao arrepio do vento
È como se todos os dias a lua cedesse ao sol os seus minutos de gloria

Carrapateco

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Um dia, numa cama qualquer,
Num carro abandonado no tempo,
Numa pedra,
Vou sentir os teus seios
Na frescura dos meus lábios,
Vou beber a humidade do teu corpo.
É nesse instante que os meus olhos e s teus olhos
Sorriem pelo tempo ausente.
O meu corpo percorre o teu num campo de flores.
O Lugar onde os teus olhos
Pernoitam nos meus,
É o pensamento

domingo, 11 de novembro de 2007

Fui mas fui obrigado. Parte 0

Como referi num post anterior, estava com vontade de escrever sobre outras coisas que não publicar alguns poemas que vou fazendo.
Ocorre que, esta semana, estreamos em Beja uma nova produção das Lendias d’Encantar, “Sangue Pisado”, que é um espectáculo difícil mas muito interessante de assistir. A estreia desta peça levou-me a pensar sobre algo que é permanentemente alvo de discussão, alimentando egos supostamente mais carenciados –“a criação de públicos”.
Ao longo destes catorze anos de actividade como actor, para não falar nos vinte e dois em que estive ligado ao movimento associativo estudantil e juvenil, deparei-me inúmeras vezes com o termo “criação de públicos”, usado pelos detentores de cargos públicos com um desplante assustador (durante muitos anos pensei que a coisa era honesta).
Expressões como – “temos de fazer espectáculos nas freguesias rurais para criar públicos” ou “é importante fazer uma peça para o público infantil porque é nesta faixa etária que temos de investir na criação de público” foram uma constante.
Hoje e depois da estreia da referida peça, penso que na tão falada criação de públicos urge começar pelos aparentemente menos carenciados de formação – delegados regionais, deputados eleitos pelo circulo de Beja, vereadores, eleitos municipais, presidentes de junta de freguesia, chefes de divisão e de departamento, …
De facto, é este o público que temos que criar para assistir aos espectáculos, porque para além de uma hipotética análise critica sobre o espectáculo (tenho algumas dúvidas), pelo menos estes teriam conhecimento de causa quando estivessem a discutir e decidir apoios a atribuir.

cartaz EROSCOPIO

terça-feira, 6 de novembro de 2007

teu corpo esguio

Ontem sorri ao lembrar o teu corpo
seguro, ágil, esguio
nas tardes em que lhe tocava levemente no meu quarto
sabia de cor todas as tuas necessidades
como te agradavam as carícias no pescoço
os abraços apertados antes de me entregar a ti
os olhares doentes de desejo
o percorrer de língua, muitas vezes desesperada de entrar em ti
de te ter dentro do meu corpo
trocando a natureza dos corpos