domingo, 11 de novembro de 2007

Fui mas fui obrigado. Parte 0

Como referi num post anterior, estava com vontade de escrever sobre outras coisas que não publicar alguns poemas que vou fazendo.
Ocorre que, esta semana, estreamos em Beja uma nova produção das Lendias d’Encantar, “Sangue Pisado”, que é um espectáculo difícil mas muito interessante de assistir. A estreia desta peça levou-me a pensar sobre algo que é permanentemente alvo de discussão, alimentando egos supostamente mais carenciados –“a criação de públicos”.
Ao longo destes catorze anos de actividade como actor, para não falar nos vinte e dois em que estive ligado ao movimento associativo estudantil e juvenil, deparei-me inúmeras vezes com o termo “criação de públicos”, usado pelos detentores de cargos públicos com um desplante assustador (durante muitos anos pensei que a coisa era honesta).
Expressões como – “temos de fazer espectáculos nas freguesias rurais para criar públicos” ou “é importante fazer uma peça para o público infantil porque é nesta faixa etária que temos de investir na criação de público” foram uma constante.
Hoje e depois da estreia da referida peça, penso que na tão falada criação de públicos urge começar pelos aparentemente menos carenciados de formação – delegados regionais, deputados eleitos pelo circulo de Beja, vereadores, eleitos municipais, presidentes de junta de freguesia, chefes de divisão e de departamento, …
De facto, é este o público que temos que criar para assistir aos espectáculos, porque para além de uma hipotética análise critica sobre o espectáculo (tenho algumas dúvidas), pelo menos estes teriam conhecimento de causa quando estivessem a discutir e decidir apoios a atribuir.

1 comentário:

Anónimo disse...

criação de públicos é conceito sempre utilizado para justificar o atribuir ou não de subsídios, apoios...
companhia que é companhia, que quer/necessita do apoio estatal sabe que é sempre a frase a pôr em bold em qualquer projecto.
é oco, é vazio, é bacoco, é...
qualquer coisa que dá jeito, que ninguém sabe muito bem o que é, nem como se faz.
e a verdade é que a criação dos públicos tem mesmo de começar por cima, por quem tem o poder de escolher que projectos são ou não dignos de ser levados avante.
que decisão consciente vai tomar alguém que não vê? que não assiste? que não entende as dificuldades e necessidades de quem trabalha?
é a patetice do costume. fingimos todos que entendemos do que falamos, do que decidimos, e se alguém perguntar: "... é um projecto muito interessante que entre outras coisas contempla a necessidade de criar de novos públicos..."