sexta-feira, 29 de outubro de 2010

despedida 1

Este é o primeiro de uma serie de balanços que quero fazer sobre a minha estadia em Cuba. Quando aceitei o convite para vir participar como actor numa peça de teatro em Havana, decidi que tentaria viver o mais possível como cubano. Acho que o consegui, vivo numa casa num bairro periférico de havana, nunca entrei num restaurante durante estes 3 meses, ando de transportes públicos, não tenho um único amigo estrangeiro.
Neste primeiro texto, não vou falar de politica, nem de teatro, nem de muitas coisas de que me apetece falar, vou apenas escrever algumas linhas sobre as pessoas com as quais me cruzei ou que tive o prazer de conhecer.
O povo cubano tem algumas características que aprecio bastante e com as quais me identifico sobremaneira. É culto, generoso, humilde, solidário, bem-disposto e com um enorme sentido de humor. Conheci pessoas de todas as idades e em todas elas existe uma sede de conhecimento impressionante, é frequente encontrar um jovem de 25 anos que é licenciado, esta a trabalhar, aprofunda conhecimentos em alguma língua estrangeira, e frequenta algum outro curso totalmente diferente da licenciatura concluída.
Aprecio muito o sentido de humor dos cubanos, mesmo enfrentando as maiores dificuldades e contrariedades, não perdem a oportunidade de brincar com as adversidades. Aqui descobri que também tenho sentido de humor e que sou uma pessoa bem disposta e feliz. È um prazer acordar e encontrar-me com as pessoas que trabalham nesta casa. Na casa onde vivo trabalham 16 pessoas em dois turnos, no outro dia apercebi-me de algo muito curioso, as vezes acordam-me cedo e eu não percebo porquê, no outro dia percebi que não era por nada de especial, era para estarmos a brincar, para nos divertirmos em conjunto. E as manhãs começam com muitas gargalhadas e partidas como se adolescentes fossemos. Trabalha aqui um cozinheiro de mais de 60 anos, um dos grandes amigos que aqui deixo, eu e ele brincamos como dois adolescentes, depois ele conta-me das suas passagens pela guerra de Angola e da Etiópia, e de quando decidiu entregar o cartão do partido. Depois eu marco reuniões com todos os trabalhadores da casa, e faço discursos sobre a necessidade de aumentar a produtividade e que vou ter de dispensar alguns trabalhadores. Levamos a coisa como se fosse real e no fim divertimo-nos muito com todas estas brincadeiras de moços pequenos.
Sobre a solidariedade de Cuba e do cubano , deixo para outro texto.

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